Neste mês de Maio aconteceu o Granfondo New York, uma prova ciclística tradicional nos Estados Unidos que reúne ciclistas de todo o mundo. Este ano participaram cerca de 5 mil atletas, entre eles 3 de meus amigos e alunos, o Márcio Kumada, o Júlio Ramos, e o Fernando Freire. Eles fazem parte do Velo Team, que além de pedalam juntos, levam o companheirismo e a amizade como inspiração em seus desafios, fortalecendo estes valores também fora da bike. Veja o relato da prova do Márcio Kumada, pessoa que admiro muito pela disciplinada e dedicação.
Granfondo de New York
Dizem que histórias são para serem contadas, e sim entendo
que esta mereça ser uma delas... Não pela competição ou pelo glamour de uma
prova internacional (minha primeira), mas sim por Dedicação, Disciplina,
Superação e principalmente Amizade.
Esta história na verdade começa a três anos atrás quando um
senhor gordinho de quase 40 anos recebe um diagnóstico não muito bom do checkup
e decide mudar seu estilo de vida (mas essa é uma história um pouco mais longa
e fica para talvez um livro...), voltando aos últimos seis ou sete meses quando
decidimos, eu e Júlio Ramos fazer esta aventura de 160km em outro país e com
2.500metros de ganho de elevação. Com o desafio definido iniciamos todo
processo de treinamento, Mestre Couto definiu suas planilhas duras, mas de fato
eficientes, foram muitos e muitos Kms de estrada, muitas e muitas subidas, e
subir 5x o Pico do Jaraguá já nem parecia tão complicado assim no final. rsrs
Poucas semanas antes se junta a dupla, Fernando Freire, que
decide fazer o meio Granfondo, por bem estava também muito bem condicionado
para enfrentar os 80Kms.
“Marinheiros de primeira viagem” chegamos uma semana antes e
como turistas fomos as compras e a conhecer os pontos turísticos de NYC (este
fato será importante no final da história).
Um dia antes. Montamos nossas bikes e fizemos os últimos
ajustes com um treino solto no Central Park, muito bacana esta experiência e
importante para estar alinhados para prova.
Enfim chega o grande dia, acordamos as 4 da manha para saída
do hotel as 5, poucos minutos antes de sair do hotel um gringo que também ia
para prova se aproxima e me informa que não poderíamos ir com nossos uniformes
do Véloteam, que havíamos preparado justamente com a bandeira de nosso país,
ficamos tristes mas corremos e trocamos rapidamente para sair com o uniforme do
evento. A saída ainda no escuro com um frio de 8oC, estávamos a 17
Kms da largada e fomos pedalando, durante o trajeto encontrando vários ciclistas
também a caminho da largada.
Imaginamos poder largar juntos, porém houve a separação por
grupos de 500 em 500 atletas, desta forma o Fernando ficou separado por ter
realizado a inscrição muito depois da nossa. Eram muitas pessoas, segundo o
locutor 5.000!
O primeiro desafio foi suportar o frio que segundo o
aplicativo indicava sensação térmica de 0oC, tentei ficar encolhido,
mas ao final comecei a correr no lugar como louco, para não entrar em colapso,
pois tremia como nunca tremi antes. Contudo a paisagem era espetacular, pois
estávamos na George Washington Bridge com céu azul, música muito alta para
energizar, e pouco antes da largada uma cantora menciona “quem faz a corrida
são os corredores” e inicia o Hino dos Estados Unidos e apesar de não ser o
nosso, me emocionou muito.
“Five, Four, Three, Two, One, GO!” me lembro como se fosse
agora, muita energia, emoção ansiedade, milhares de ciclistas, tudo junto, foi
sensacional.
Saímos bem controlados, até mesmo porque não havia como sair
forte com 1.500 bikes a sua frente, e mantivemos uma boa média nos primeiros
Kms, passamos pelo primeiro posto de suporte e decidimos não parar pois seriam
seis e a estratégia de parar em três parecia ser boa. Chegamos ao segundo posto
em Haverstraw com aproximadamente 50Kms percorridos, estávamos super bem, a
surpresa ou não, foi ver um lugar enorme com uma tenda com muita, muita comida,
sanduíches, bolos (chocolate e baunilha), suplementos (géis e barras de
proteína), bolachas, salgados, frutas, água, isotônicos, coca cola, muitos
banheiros químicos, suportes para as bikes, realmente a estrutura foi um ponto
muito forte do evento, por exemplo a cada cruzamento haviam policiais para
fechar o trânsito. Nos alimentamos, confesso que até me controlei para não
ficar comendo mais, e partimos (parada de 10 minutos).
Logo na saída tivemos a grata surpresa de encontrar o
Fernando, e a partir deste ponto passamos a pedalar juntos os três Véloteans.
Esta segunda perna da prova previa já encontrar a temida Bear Montain (Montanha
do Urso), chegamos ao pé da montanha e como em outras subidas avisei aos meus
Amigos que iria subir no meu ritmo e os encontraria no topo da montanha que
seria nossa segunda parada. Iniciei a subida em meu ritmo e percebi que passava
com certa facilidade vários blocos de ciclista e comecei a contar e parecia
incrível, mas foram em torno de duzentas ultrapassagens. Nesta hora lembrei do
treinador que me falou: “me odeie no treino para me amar na prova”. Rsrs
Cheguei ao topo com 25 minutos de subida, excelente para
minha expectativa. Aguardei alguns poucos minutos e pude fotografar a chegada
dos meus Amigos que seria o final da Prova para o Fernando.
Parada
rápida de 10 minutos, mais uns sanduíches e saímos para terceira perna, que
previa duas Colinas. Descemos muito bem, mas o frio estava forte ainda e a
estratégia de sair com a segunda pele completa e manguito se mostrou muito
acertada, pois subi o manguito na descida e fiquei bem confortável.
Com alguns trechos planos, encontramos vários pelotões, e
com um bom ritmo me via puxando o pelotão a 40km por hora, é uma alegria
indescritível. O curioso é que por ser uma prova muito longa, também haviam
momentos em que estávamos somente nós dois. Pouco depois da primeira Colina, o
Júlio me avisa que teve câimbra, fato inédito, pois em vários treinos e provas
nunca havia acontecido, e me pede para ir adiante, mas a nossa estratégia era
realizar a prova juntos e iniciei a motivação para que ele seguisse forte para
concluirmos o desafio.
Chegamos a terceira parada nos alongamos, mais um sanduíche,
bolo e coca cola (rsrs). Saímos com 10 minutos de parada para a última perna,
cerca de 40Kms. Logo na saída veio a pior parte da prova, comecei a sentir
fortes dores no ligamento atrás do joelho direito. Não entedia a razão pois
havia me preparado muito bem e jamais havia sentido algo parecido, semelhante
ao Júlio, e pensando um pouco chegamos a conclusão de que por termos andado
muito durante a semana (turistas), como relatei no início do texto. Esta é uma
das lições aprendidas, realizar primeiro a prova e depois o passeio.
Com a dor dos ligamentos não conseguia mais pedalar sentado
nas subidas e nas retas também se tornou um sofrimento. Percebi que pedalando
em pé sentia menos dores e passei a pedalar assim, porém o tendão de Aquiles
passou a sentir o peso dos Kms em pé.
Neste instante comecei a pensar em tudo que fiz para chegar
até ali e não iria desistir, o Júlio neste instante foi fundamental e começou
também a me motivar, falando que faltava muito pouco.
A cada subida a dor aumentava e tenho que confessar que
houveram algumas lágrimas de dor e emoção. Pedalamos mesmo assim forte,
mantivemos a média nas retas a 35 - 40 kms/h, até chegar novamente ao parque
onde seria a chegada da prova, com suas ultimas subidas.
A chegada foi sensacional, pois o locutor anunciou nossos
nomes no sistema de som e ouvir “Marcio Kumada from Brazil” foi espetacular!
Ainda de quebra havia uma macarronada e espreguiçadeiras
para todos os ciclistas que fechou com chave de ouro.
Agradeço muito em primeiro lugar a Deus por me permitir
passar por momentos inesquecíveis, a minha esposa Eloá pela compreensão por
tantas horas de treino, meus Treinadores Fernando Couto, Ivan Sales e meus
Amigos do Véloteam por toda companhia durante os treinos.
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